O PackersBR te conta: De onde Surgiu o Futebol Americano?
Por quê ele se chama Futebol, mas se joga principalmente com as mãos?
O Futebol Rugby e o Futebol "Associado" (ou futebol tradicional) eram, inicialmente, o mesmo esporte até por volta de 1823. Diz a história que jogadores da Rugby School, na Inglaterra, começaram a usar as mãos para carregar a bola em direção à linha de fundo adversária — um marco que iniciou a distinção entre essas duas formas de futebol. Interessante notar que, até hoje, as balizas utilizadas no Rugby estão posicionadas próximas ao início da linha de "in-goal", equivalente à endzone no Futebol Americano, onde também esta posicionada a Baliza de gol do Futebol Associado. Assim, em 1823 começou a diferenciação entre os dois principais tipos de futebol existentes, que hoje se dividem basicamente em três grandes vertentes: o Futebol Associado (soccer), o Rugby e o Futebol Americano. Existem ainda outras modalidades menos difundidas, como o Futebol Gaélico e o Futebol Australiano, praticados em número menor de países.
Agora que entendemos como o Rugby surgiu, vamos descobrir como o esporte inglês deu origem ao esporte mais popular dos Estados Unidos.
Como o Futebol Americano nasceu nos EUA
O Futebol Americano surgiu no século XIX nos Estados Unidos, a partir de adaptações feitas nas regras do Rugby e do Futebol Associado praticado nas universidades americanas. Inicialmente, o esporte era bastante diferente do que conhecemos hoje: as equipes tinham cerca de 25 jogadores, e o formato do jogo se aproximava muito mais do Rugby e do futebol europeu.
Com a influência decisiva de Walter Camp, considerado o "Pai do Futebol Americano", o esporte começou a se diferenciar significativamente do Rugby, desenvolvendo características únicas que hoje definem o Futebol Americano:
Descidas (downs): No Rugby, cada fase de ataque é marcada após o RUCK, que ocorre quando o jogador tackleado disponibiliza a bola para traz no chão e que assim seja retomada em jogo. O jogo flui de forma contínua, sem pausas prolongadas. Já no Futebol Americano, essa dinâmica foi modificada para que o jogo fosse paralisado a cada novo "ruck" — que se tornou o snap — dando início a uma jogada nova sempre que a bola é posta em movimento. Essa pausa e reinício estruturaram um ritmo singular para o Futebol Americano.

Linha Ofensiva e Defensiva: Essas formações vêm da combinação da proteção do ruck com elementos do scrum do Rugby. No scrum, grupos de forwards de cada time disputam a posse da bola através de força coletiva. Algumas posições comuns no scrum são:
Centros ou Hookers: responsáveis por "jogar" a bola para trás com os pés e empurrar a formação adversária.
Pilares Direito e Esquerdo: os principais jogadores do scrum, que sustentam a formação e lutam para ganhar território.
Wings ou Asas: apoiam a formação e protegem as laterais para evitar que adversários escapem com a bola.

Na transição para o Futebol Americano, essas posições foram adaptadas para a linha ofensiva, com o hooker virando o center, os pilares se tornando guards, e os wings assumindo o papel dos tackles.
Skill Positions (posições especializadas): Os backs no Rugby, jogadores que não participam do scrum e geralmente são mais rápidos, posicionados nas extremidades do campo, foram adaptados às posições especializadas no ataque do Futebol Americano. O quarterBACK, por exemplo, deriva de um BACK que se posicionava a um "quarto" (QUARTER) da linha de SCUMmage (hoje chamada de Scrimmage) até o fullBACK. É interessante notar como a terminologia do Futebol Americano está diretamente ligada às origens no Rugby.

As posições defensivas também se originaram como reflexo dessa especialização do ataque, preservando aspectos dos posicionamentos iniciais do Rugby, mas adaptadas à evolução das regras e estratégias do novo esporte.
A grande diferenciação que tornou o Futebol Americano único foi a introdução do passe para frente, implementado na década de 1900. Essa inovação não só trouxe uma nova dimensão tática ao esporte, possibilitando jogadas mais dinâmicas e criativas, como também teve um impacto significativo na segurança dos jogadores. Antes do passe para frente, o jogo ainda preservava elementos herdados do Rugby, como os "mauls" — formações em que um bloco de jogadores tentava empurrar o outro coletivamente, que no inicio do Futebol Americano frequentemente resultava em pisoteamentos, múltiplas lesões e, em casos extremos, até fatalidades.

A introdução do passe para frente não apenas reduziu drasticamente as situações violentas herdadas do rugby, tal como a redução da quantidade de jogadores de 25 para 11 (assim como o Futebol Associado), mas também marcou uma diferenciação profunda entre o Futebol Americano e o Rugby. Com a adoção do passe para frente, as posições antes conhecidas como wings backs evoluíram para os hoje wide receivers, jogadores especializados em receber estes passes para frente. Seus equivalentes defensivos, por sua vez, tornaram-se os cornerbacks, responsáveis por marcar estes wide receivers e defender as jogadas aéreas. Essa especialização trouxe uma nova complexidade tática e dividiu as funções dos jogadores de maneira mais clara.
A partir desse ponto, a história do Futebol Americano se desenrolou com crescente desenvolvimento e diversificação. O jogo consolidou-se como único no mundo, não apenas pelas regras, mas pela dinâmica que combina o ritmo cadenciado e estratégico das jogadas por fases (downs) com a explosividade e velocidade típicas de um esporte altamente dinâmico. Essa mistura singular o diferencia claramente dos outros dois grandes tipos de futebol — o associativo e o rugby — destacando sua identidade própria e única.
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